Sunday, May 27, 2007

Bloomsyear

Dividi a vida com Tansan por um ano. Companheira de quarto em Dublin, de aulas, bibliotecas, filmes no Irish Film Centre, compras no Temple Bar Food Market, descobertas e viagens. Há 6 anos não vejo esta pequena. Para grande alegria, Tansan chega este sábado em Seattle. Ela ficará aqui em casa por uma semana. Quem sabe ano que vem vamos ao Japão visitá-la?

Ao lado de Tansan enfrentei a primeira estada em terra estrangeira e todas as angústias dos 21 anos. Sozinhas, na ilha esmeralda. Lembro-me do dia em que ela apareceu com a cabeça raspada em casa, para marcar o novo recomeço; do inverno brutal e de nós duas dançando a mesma música japonesa todos os dias no ponto de ônibus; das trocas de carinho e de cultura; da explicação sobre o poder curativo do umeboshi, green tea e misô.


Uma vez, resolvemos cruzar a Irlanda em 20 dias. A proposta era conhecer a ilha, explorar os castelos antigos, andar pelos monastérios abandonados, percorrer as ruínas de mais de 5 mil anos, caminhar nas pedras de Giants Causeway, descobrir os mistérios celtas e contrastar com a guerra do homem moderno, entender o conflito católico-protestante, visitar museus, observar as muralhas de Derry, alegrar-nos com as cores de Galway, torcer para encontrar druidas ou por ter a sorte de um leprechaun. Sempre, sob qualquer circunstância, deliciar-nos com todo o tipo de batata e agradecer a boa mesa!


Alugamos um carro e lá fomos nós: eu, Tansan, Kazuoko e a bela francesa Laurence. Grosseiramente, o roteiro deveria cobrir as seguintes cidades: ao norte, Belfast, de lá para o noroeste, em Derry, depois do outro lado da ilha em Galway, ao sul para Cork e depois, finalmente, voltaríamos para Dublin. O resto do mapa seria feito nos brindes da jovem curiosidade e sua irmã mais nova surpresa.


Eis que surgiu outra vila interessante no meio do caminho. Era cedo ainda. Eu queria ir ao museu local e andar pelas ruas de pedra; Oka e Tansan estavam cansadas e queriam ficar no hotel. Combinamos o reencontro ao meio-dia. Laurence veio comigo.

Na volta, olho para frente do hotel e nada do carro. Laurence também desesperou. Subimos para ver se as meninas estavam no hotel. Nada: nem Oka, nem Tansan. Deixamos um aviso na recepção. “Precisamos registrar o roubo na polícia. Depois, devemos pegar o primeiro ônibus para Dublin, ir até a locadora de carros e descobrir o que precisa ser feito".

Corremos para a delegacia. Manchete: “Estudantes roubadas perdem tudo e trabalham para locadora para pagar dívida”. Ríamos e chorávamos ao descrever o carro para o oficial, com inglês quebrado. Mostramos toda a documentação, nossa permissão irlandesa e nossa carteira vazia. Registro feito. O policial nos deu uma carona até o hotel.

Ao chegar, o carro. “O carro!”. “Seu policial, eu juro que o carro não estava ali”, “Desapareceu por brincadeira de um duende”, “Ladrão irlandês tem culpa e remorso!”, “Aposto que não tinha para onde fugir: é uma ilha!”. O policial não falou nada, pelo menos nada que minha memória tenha se dado ao trabalho de registrar.


Que alívio! Que felicidade! Podemos seguir os planos de férias. Laurence e eu subimos para ver se as meninas já estavam no hotel. Queríamos contar nossas aventuras na delegacia, almoçar e rir um pouco. Ao entrar no quarto, Oka e Tansan choravam, ajoelhadas no chão. Cabeça baixa. “O que foi? Aconteceu alguma coisa?”.

Tansan foi responsável pelo sumiço do carro, um plano para dominar o calmo vilarejo de poucas ruas. Pois bem, cansada de descansar, resolveu dar uma voltinha rápida para relembrar como dirigir, testar o possante e quem sabe, ajudar na estrada. Oka foi de guia. Na volta, pegaram o recado na recepção: as outras moças estão na delegacia para registrar o roubo do automóvel.


Fotos do meu primeiro blog, Violetway, 2001-2002.

4 comments:

Anonymous said...

aproveitando a boa fase entre os jornalistas talentosos, pergunto: quando estes diários de viagem vão virar livro? Mérito não falta...

Patrícia Kalil said...

Já pensou, fabinho, quem me dera? Valeu pela força! :)

Som said...

Foi muito bom ver essas fotos de novo... imagino para você! Trazer o ontem fresquinho...e viver de novo.

Patrícia Kalil said...

alo alo som!;)