Sunday, November 13, 2005

O som deste domingo



O violonista Baden Powell, que ganhou o nome em homenagem ao general inglês fundador do escotismo, foi mestre na arte do dedilhado. Criador de um estilo próprio ao violão, Powell reformulou a MPB pós-bossa nova. Em 2000, aos 63 anos, lançava o álbum Lembranças. E naquele mesmo ano, seu violão ficou mudo. As cordas calaram na observância de um som que ainda existe, num "Encontro com a Saudade" e noutro "Samba Triste".

O repertório, escolhido a dedo, traz clássicos da MPB e da bossa nova. Entre as canções, figuram "Falei e Disse", uma parceria com o sambista Paulo César Pinheiro
, "Tem Dó", parceria com Vinicius de Moraes, "Pastorinhas", de Noel Rosa e João de Barro, e "Inquietação", de Ary Barroso. O álbum –todo instrumental – revela rigor estético ao violão e beleza.

Breve perfil
Sua habilidade nas cordas não decorreu do acaso, desde menino interessou-se por música. Filho de violonista, ele acompanhava as reuniões musicais em sua casa. Aos oito anos, já tomava aulas de violão com um professor particular. Foram cinco anos dedicados ao estudo de clássicos, num dedilhar sem fim. Aos 13, já animava bailes do subúrbio carioca, matava aula para tocar com os amigos no morro da Mangueira.


Quando terminou o ginásio, Powell fugiu para a Rádio Nacional. Fez excursões pelo país acompanhado do pessoal da emissora. Quando atingiu a maioridade, em 1955, entrou para o trio do pianista Ed Lincoln, tocando jazz em uma boate carioca. Aos 19, compôs em parceria com Billy Blanco a canção "Samba Triste" —gravada quatro anos depois, por Lúcio Alves.

O melhor ainda estava por vir. Aos 25 anos, conheceu o poetinha Vinicius de Moraes, de quem virou parceiro. Logo no começo da amizade, surgiram obras-primas das mãos dos dois, como "Samba do Prelúdio", "O Astronauta", "Consolação", "Samba da Benção", "Tem Dó" e "Só Por Amor".Depois, em meados da década de 60, foi para França. Apresentou-se com seu violão, ao exibir sambas de sua autoria e composições eruditas. Lá, Baden fez tanto sucesso, que fechou um contrato para produzir a trilha sonora do filme "Le Grabuje".

Na volta ao Brasil, partiu em uma pesquisa sobre as sonoridades africanas no país, com o intuito de incorporá-las na sua música. Passou seis meses na Bahia, quando estudava os cantos dos terreiros e o candomblé. Quando encerrou sua pesquisa, novamente com o parceiro Vinicius, compôs uma série de afro-sambas como "Tristeza e Solidão", "Canto de Xangô", "Canto de Ossanha" (sucesso na voz de Elis Regina).

Enquanto isso, na Europa, fazia fama. Era requisitado para grandes eventos de música. Morou em Berlim, Paris e fez turnê em grandes cidades européias. Entre seus grandes feitos, participou do Festival de Jazz de Berlim, ao lado dos guitarristas Jim Jall e Barney Kessel; tocou com a Orquestra Sinfônica de Paris; gravou os discos "Baden Powell Quartet", "Baden Powell", "Baden Powell Trio & Opera Frankfurt", entre outros. Diferente de outros músicos que se gabam do sucesso em terras estrangeiras, preferiu silenciar a façanha —sua personalidade era avessa ao rebuliço.

No Brasil, era lembrado em composições eternizadas na voz de Vinicius, Elis Regina, Elisete Cardoso, Milton Nascimento, entre outros. Mas seu forte era o violão, que sozinho, mesmo sem voz, era único.

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