Monday, February 10, 2003

EUA x Iraque

O presidente George Bush Júnior não é um homem que precisa de conselhos. Por essas e outras, o Conselho de Segurança da ONU não parece mudar muito os desejos do Chefe de Estado. O mundo vê contrariado.

Para demonstrar a insatisfação, um grande levante popular gritou basta. Dia 15 de fevereiro de 2003, mais de 8 milhões de pessoas em 60 países foram às ruas no maior protesto pacifista da história. Provavelmente não serão ouvidas. Mas a vontade de demonstrar o descontentamento é maior que a surdez alheia. "É importante e necessário dizer que esta guerra não é nossa", defende Jason Mark, diretor de comunicação da ONG Global Exchange (EUA), responsável por promover manifestações nos Estados Unidos. Em parceria com entidades como "United for Peace and Justice", "International Answer", "Win without War", a organização organiza manifestações contra à posição do próprio governo. "A guerra é iminente; já não há tempo para freá-la. No entanto, como cidadãos conscientes, devemos nos opor a ela".

Mas sequer as vozes da ONU mereceram atenção, ou de 3 dos 5 membros permanentes do Conselho de Segurança da organização (França, Rússia e China). Será que Bush reconhecerá vozes anônimas? Para o lingüista Noan Chomsky, o inevitável (ou seja, a guerra) não é o que lhe desperta interesse neste momento: "As manifestações devem ser analisadas por outro prisma, já que o ataque dificilmente será evitado. Nunca vimos na história mundial tamanha oposição contra uma guerra, antes mesmo dela começar", afirma.

Ora, mas o Iraque vem sendo bombardeado há mais de dez anos, desde o fim da guerra do Golfo em 1991. Todos fizeram vistas grossas ao fato. Dados da Unicef mostram que mais de meio milhão de crianças morreram por falta de nutrição e cuidados médicos no Iraque neste período. "Ataques isolados não mobilizam a população, uma ameaça de guerra mundial sim", replica Janson Mark.

O governo estadunidense parece jogar. Insinua que a oposição à guerra é uma espécie de aprovação ao governo iraquiano e, conseqüentemente, a oposição à liberdade. Longe disso. Os manifestantes do mundo não pelejam por Sadam Hussein, opõem-se simplesmente à guerra. Tanto faz matar em nome de regimes totalitaristas, como em nome da santa democracia. Nem mesmo Osama Bin Laden, o maior representante do mal, em "suposta" gravação transmitida pela imprensa, pleiteia em favor do ditador.

Nessa "cruzada" contra o mal, o primeiro-ministro inglês Tony Blair é o principal aliado dos americanos. Renasce, dessa aliança, a grande Sala da Justiça, onde brincam de heróis do mundo. Fora da fantasia de poder, pessoas morrem e sofrem. A oposição é o resgate da união popular, a romper barreiras internacionais.

Passo a passo

Muito antes dos ataques terroristas de 11 de setembro, o Iraque já era alvo americano. A guerra contra o terrorismo veio como pretexto para a entrada no Oriente Médio, uma das maiores áreas petrolíferas do planeta. Os Estados Unidos destruíram o Afeganistão em busca de um terrorista sem destino, culpado de planejar a queda das torres do World Trade Centre, em Nova York. Essa foi uma investida militar, de legítima defesa, autorizada pela ONU. Os Estados Unidos prometiam consertar o estrago após o fim do regime Taliban e o aprisionamento de Bin Laden. Até hoje as ações de reconstrução do país não correspondem às promessas norte-americanas; Bin Laden também continua com paradeiro perdido.

Antes mesmo de amenizarem os ataques no Afeganistão, os Estados Unidos já se engajavam em outra grande "luta". A "guerra contra o terrorismo" transformara-se numa guerra contra inimigos americanos. Ressurgiram suspeitas contra Cuba, Iraque, Coréia do Norte etc. No caso do Iraque, a guerra sempre pareceu óbvia. Desde a invasão do Kwait pelo Iraque, a família Bush tem Sadam Hussein como alvo inquestionável.

Em 1991, depois do fim da guerra do Golfo, inspeções da ONU entraram no Iraque, como parte de um processo de desarmamento do país. Durante 7 anos, os inspetores da organização vasculharam as terras iraquianas. Em 1998, o ditador Saddam Hussein fechou suas portas, pois além de fortemente vistoriado, o país continuava sendo alvo de ataques aéreos de forças norte-americanas e inglesas. Assim, este conflito corre solto há mais de 10 anos: a suposta campanha bélica atual é a mesma, com roupa velha e bota suja.

Durante quatro anos, de 1998 à 2002, não houve inspeção no Iraque. Em novembro do ano passado, já no período de caça aos terroristas do governo estadunidense, o Iraque foi obrigado a reabrir suas portas por, supostamente, possuir armas de destruição em massa. A nova grande intervenção ao país vinha de uma presumida estocagem de armas químicas e bacteriológicas. Saddam permitiu a vistoria da ONU. Mas não colaborou, inicialmente, conforme combinado. Agora, depois de concessões do Iraque à ONU, insperores tiveram mais condições de fazer a "revista". Mas ainda não encontraram nada que justifique um ataque militar dos EUA.

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