Som na caixa de Pandora
Música e matemática. O tecnólogo e músico Tim Westergren, fundador do site Pandora, sonhava em desenvolver um sistema de classificação musical há mais de dez anos, pouco após terminar o curso na Universidade de Stanford. Na época, Tim trabalhava na criação de trilhas sonoras para filmes. “Diretor de cinema não é músico e não tem o conhecimento teórico para explicar objetivamente o que quer. São indicações subjetivas, pistas, caminhos”, conta. “Eu mostrava músicas, centenas de músicas, para extrair o que o diretor queria”. O filme passava, notas pululavam na cabeça de Tim e aproximações matemáticas ganhavam forma.
Em 2000, com o boom de novos negócios de Web, o empreendedor resolveu agarrar a oportunidade. Na época, era fácil conseguir investimento. Era a festa do start-up, euforia na Nasdaq. Havia muito dinheiro na praça e faltava idéia boa. Tim lançou sua flecha: o projeto faria o primeiro genoma musical da história, um software capaz de entender o DNA de músicas para agrupá-las em diversas maneiras. Ele ainda não sabia o futuro do projeto, se seria usado para educação, composição, indicação de artistas em lojas de CD, ou uma rádio. Conseguiu investimento e colocou a pesquisa para andar.
Taxonomia musical
O núcleo de pesquisa identificou mais de 400 “genes” ou qualidades musicais classificáveis. Tipo de melodia, harmonia, ritmo, instrumentação, orquestração, arranjo, harmonia vocal, vigor e tom vocal, gênero musical, gênero do vocalista líder, nível de distorção da guitarra, tipo de background vocal, etc.Depois de definido o algoritmo mestre, a equipe começou o trabalho de classificar músicas para entrar no sistema. O trabalho de taxonomia é lento, pois cada faixa precisa ser analisada individualmente e por um profissional treinado. Uma única canção demora cerca de 30 minutos para ser analisada. Não existe um meio automático de fazer este processo. Tim conta que eles fizeram um teste com profissionais não treinados e sem background musical e foi um desastre. “Leigos não sabem o que é harmonia, identificar nível de distorção, classificar uma escala como maior ou menor”, comenta.
Chega 2001, uma bolha no espaço. Quando a primeira bolha da Web estourou, o dinheiro sumiu, diversas "pontocom" fecharam. “Ninguém queria mais financiar o nosso projeto, parecia loucura levar 30 minutos para classificar uma única música”. Só restava esperança na caixa, nenhum tostão. Cada vez mais envolvidos e apaixonados com os resultados da engenhoca, eles não queriam parar. Com trabalhos paralelos, dinheiro emprestado ou dívida, o pequeno núcleo continuava a classificar músicas diariamente. Depois de 4 anos, eles atingiram um volume razoável de faixas catalogadas no sistema.
Plano de negócio
No ano início do ano passado, a versão beta do site entrava na Web. Em menos de um mês, milhares de pessoas já tinham assinado, criado rádios e testado as indicações do sistema Pandora. A prova do sucesso. Os investidores reapareceram.Atualmente, o banco de dados tem mais de 500 mil músicas classificadas e o núcleo de análise tem capacidade de adicionar aproximadamente 12 mil novas músicas por mês. O PandoraClassics está em fase de desenvolvimento e terá um genoma com mais de mil atributos.
A rádio é totalmente gratuita e sustentada por investidores e anunciantes. O modelo de publicidade é excelente, pois possibilita o direcionamento para públicos bem específicos – exemplo: mulher, 25-30 anos, Seattle, que gosta de jazz; ou homem, 15-20 anos, Los Angeles, que gosta de surf rock. Adicionalmente, o site tem parcerias com as lojas Amazon e Itunes e recebe comissão das vendas geradas. Segundo Tim, 40% dos usuários compram CDs e o Pandora já comemora 171 mil vendas de discos na Amazon. A Microsoft, também atenta, fechou parceria ainda no ano passado e adotou o sistema Pandora para reciclar e melhorar o serviço de rádio livre no MSN.
A rádio tem capacidade para transmitir músicas constante e continuamente, sem a necessidade de copiar o arquivo de áudio para seu computador (streaming). Mas isso não basta, música existe além do computador. Como teste de mercado, a empresa começou este mês uma parceria com a operadora de telefonia celular Sprint e o lançamento de um tocador especial. E não pára por aí. Tim já tem planos para um adaptador para rádios de carro e outros aparelhos.
Direitos autorais e licença no Brasil
Cada vez que uma música toca no site Pandora, o artista recebe sua fração de direitos autorais. No caso da transmissão via internet, a legislação americana apresenta um artigo que dá o direito de sites pagarem direitos autorais diretamente para os artistas. O Digital Millennium Copyright Act (DMCA) viabilizou o pagamento sem intermediários e, por outro lado, também aumentou a pena de prestadores de serviço online no caso de infrações.
O problema é que fora dos Estados Unidos tal lei não existe. Para transmitir uma única música no Brasil seria necessário negociar separadamente com a gravadora proprietária do título. Fazer isso para toda faixa de música tornaria a situação muito difícil, cara e morosa. “Seria um trabalho inviável! Imagina, só com o nosso banco atual de 500 mil músicas, passaríamos mais tempo conversando com gravadoras do que classificando novas músicas”, comenta Tim. Ele conta que na Europa a maioria dos países já está com lobby para conseguir a aprovação da nova lei de transmissão digital e pagamento de direitos sem intermediários. “Só podemos torcer para que novas leis sejam criadas no Brasil”. A esperança pulsa.
1 comment:
Pat! Você viu uma palestra do moço na Bib. Pública de Seattle, é isso? Sou fanzoca do Pandora, o serviço é muito legal, e depois de ler sua matéria aqui, fiquei mais fã ainda. Que serviço maravilhoso e que complexidade, nossa! No mínimo, para matar qualquer bibliotecário de inveja :)
beijos! Lu
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