Em todo sólido , todo gás e todo líquido
Luzes acesas, computadores ligados, música. A mesa de jantar estava posta: suco e água com gás, um delicioso salmão com molho de endro (dill), arroz e salada. Eu e Laurent. Tudo. Todos. No meio de uma história, servidos.
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Discutíamos com entusiasmo o vôo do físico Stephen Hawking no avião do Zero Gravity Corp, para experimentar a sensação de ter seu corpo em gravidade zero. Esta é a fase preparatória para uma possível viagem espacial a bordo Virgin Galactic, em 2009.Portador de uma doença rara degenerativa, o físico tem movimento próprio apenas por meio de seus cálculos cosmológicos. Neste buraco negro, nossos passos e sobressaltos são pequenos e vulgares. Ontem, para sentir o novo, Hawking testou como é ficar em condições sem gravidade por 25 segundos. A sensação não foi corporal, talvez uma mistura entre o racional e o sonho da liberdade física.
Depois, em entrevista coletiva, Hawking falou sem encanto. Fez um paralelo sobre a possibilidade de o homem comum ir ao espaço e a vida caótica na terra. Falou da guerra, aquecimento global, a disseminação de epidemias incuráveis e o risco de ataques nucleares. Cá estamos, entre o retrocesso e o avanço. Sua voz digitalizada não revelava emoção com o futuro. Só dizia.
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Comecei a ler o novo livro do escritor japonês Haruki Murakami, “Blind Willow, Sleeping Woman”. Sou suspeita para falar do escritor, sou fã. No primeiro conto, ele buscou referência no filme “Fort Apache”, 1948. Resgatou a fala de John Wayne: “Don’t worry. If you were able to spot some Indians, that means there aren’t any there (Não se preocupe. Se você foi capaz de ver alguns índios, isso quer dizer que não havia nenhum lá)”. Absorta.Laurent, no outro sofá, tinha acabado de ler a New Yorker dessa semana e comentava dois artigos: um sobre a inevitabilidade do envelhecimento e outro sobre o massacre na Universidade Virginia Tech. O último questionava o direito civil de porte de armas nos Estados Unidos. O texto começava com uma cena brutal: enquanto os bombeiros retiravam os trinta e tanto corpos da universidade, os celulares nos bolsos dos estudantes baleados tocavam incessantemente. Pais desesperados procuravam um alô para saber se o filho estava bem. Sem resposta.
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2 comments:
jantar bonito e o planeta girando lá fora. dá pra ter fome? às vezes não dá nem pra respirar, literalmente.
precisava deixar registrado.
achei sensacional este trecho "Meus copos sempre demoram a esvaziar. Luzes acesas, micros ainda ligados, alguma música. Pratos limpos". Usando todos os os outros objetos e substantivos você definiu por inteiro a personalidade do sujeito (fem.)
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