Tuesday, September 05, 2006

Three


A noite estava densa e sufocante. Os olhos, em busca de refresco, voltavam-se para o céu limpo... Cama da lua imensa e gorda. Há períodos em que a natureza grita por transformação. Em Minas sem mar, noites de maré cheia trazem um cardume de aflitos, privados da capacidade de sonhar.

Quando o cão invadiu o terreno dos Espiga, escondia em seu silêncio o ritmo da determinação. Coreografia solo. Eu corri para perto do portão vizinho; não queria perdê-lo de vista. O cão andou em círculos pelo território inteiro: passava pela casa grande e descia em direção ao pequeno laboratório -ainda com a luz acesa. Deu doze voltas, até a lua atingir o meio do céu. Foi quando o cão buscou um ponto na frente da casa principal e pôs-se a mijar.


Seu Jacó deixou o laboratório tarde, concentrado em especulações e improbabilidades. Trazia uma garrafa de vidro nas mãos. Ao subir para a casa,
deparou-se com o cão imóvel e a grande poça de mijo. ‘Maldito!’, gritou, ao lançar a garrafa. O vidro espatifou na entrada. Os estilhaços brilhavam com a luz da lua.

O bicho paralisou, com medo.
Tentei chamá-lo, com a força do pensamento. Não funcionou. Seu Jacó se aproximava. Eu precisava tirar o cão de lá... o infeliz pediu minha ajuda e eu não sabia o que fazer. Sem saída, revelei-me atrás do portão: “Vooolte!”, chamei. O cão olhou para mim e correu.

Surpreendido, o cientista tropeçou sozinho. Apoiou a mão esquerda sobre uma lasca de vidro e fez um pequeno corte na palma. ‘Sangue! Sangue!’.
O grito. A voz do marido. Perigo. Dona Gorda, ainda insone, correu à porta. O estranho cachorro dos Oliveira lhe prestara visita.

CENAS DO PRÓXIMO CAPÍTULO

... O primeiro muro.

1 comment:

Anonymous said...

Muito boa essa historia. Estou esperando o proximo capitulo com urgencia...