One
Ele foi o único que escapou da invasão cataclísmica. Se não fosse um cachorro, contaria a história daquela casa. Uma outra versão dos fatos. Mas era um cão, agora sem dono, casa, nome ou lei. Todavia, se hoje era um sem-teto, caiu nessa condição ignominiosa por desejo de Deus.
O cão pertencera à família Oliveira, que um dia fora dona de todas essas terras. Diz a lenda que no inverno de 1984, alienígenas assassinaram toda a família. Creia ou não, é o boato que corre. O sangue dos Oliveira escorreu terra adentro. A prefeitura de Amareto fechou o local.
Isso tudo aconteceu quando eu tinha apenas oito anos. Eu não me lembro de muito detalhe, apenas que queria o bicho e ele, por sua vez, também me bem-queria. Meu pai deixava que eu desse as sobras de nossas refeições para o cão. “O mínimo de dignidade ao velho animal”, dizia.
Durante os primeiros meses, o cão parecia viver em outro mundo, perplexo, em surto. O olhar fixo, que não permitia latido, choro ou emoção. O pobre dormia, acordava, olhava para o imenso vazio.
Ainda no final daquele ano, a prefeitura da cidade, em acordo com o governo central, doou à área inteira ao senhor Jacó Espiga, um cientista paranaense de descendência polonesa. O velho veio para o nosso vilarejo em Minas, como toda sua família. Havia algo de muito secreto em toda aquela missão. Uma pesquisa federal. A área 51 brasileira.
CENAS DO PRÓXIMO CAPÍTULO
... Desde quando cachorro fala?
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