Vibrações das bregas vocais
- Decidi que vou mudar de voz a partir de agora – falei num tom mais grave, com segurança. Tenho pensado sobre isso durante os últimos 10 anos. Chegou o momento – a voz engrossava a cada frase.
- Como assim, mudar de voz? – perguntou ele.
- Apresentar minha voz de maneira diferente. Um dia, todo mundo faz isso. Tem gente que muda de voz naturalmente, no final da adolescência. Uma transformação calma, suave. O vozeirão que chega e abre a porta da vida adulta. E tem gente, meu amor (falo com uma voz de Ângela Roro), que deve praticar a mudança. Isso acontece com algumas pessoas, quando a voz persiste no tom agudo pela vida toda.
- Você pode, pelo menos agora, durante essa conversa, falar com a sua voz normal?
- Quero ter uma voz mais contralto.
- Mas você não pode fazer isso comigo.
- Como assim?
- Eu não vou mais te reconhecer.
- Vim tanta areia andei (imito Beth Carvalho)
- Que isso agora?
- Se alguém perguntar, eu devo dizer o quê? Talvez eu possa dizer que é uma gripe. Aos poucos, a nova voz vai virar rotina.
- Amor, eu acho que não é legal mudar de voz assim.
- É como eu sonhava, baby (imito Sandra Sá)
- E quando a gente namorar... Eu gosto da sua voz antiga.
- Essa é minha nova voz, amor. Nova voz, amor. Amor, nova voz. Prazer. Você é o primeiro a conhecê-la. Você gosta?
- Gosto, mas não para você.
- Me dá um beijo. Faz de conta que eu só estou rouca...
- Pensa com calma. Essa mudança pode mudar sua personalidade.
- Como assim?
- Pode não combinar com seu estilo, jeito de falar...
- Amor... (voz grossa)
- Amor...
- Amor... (voz grossinha)
- Amor...
- Amor...
- Amor...
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