O sítio e o Cachorro Louco
Férias. Sítio de meu pai! Que divertido era passar férias no sítio de meu pai. Dias de peripécias! Assistíamos ao meu pai matar porco, mostrar o passo a passo do cuidado com a horta, achar abóboras gigantes pela plantação.
Ele tinha uma lata velha, enferrujada, misteriosa, que ficava sempre na sala. Dizia que tinha um rato enorme dentro e ameaçava as crianças quando a bagunça parecia incontrolável.
- Cida, pega a lata do rato! Vamos parar com essa zona, senão eu abro...a lata!
Eu morria de medo que ele abrisse. Tinha certeza que desfaleceria só de ver o rato gigante que ele criava lá.
Como a vida não é feita só de hortas e porcos, um dia... aconteceu um acidente. A mulher do caseiro gritou esbaforida:
- Seu Ricardo, um cachorro tá comendo meu marido! Seu Ricardo!!
Todas as crianças (eu, Luciano, Kalilzinho, Amelinha, Ticinha, Tiago, Binho e sei lá mais quem –a casa de meu pai sempre foi cheia de crianças) estavam espalhadas pelo sítio. Uns brincando de fazer bolo de barro, outros brincando de pega-pega, outros de pescar no lago ... De repente, ouvi a tia Cida gritar:
- Crianças, venham para cá! Corram! Fiquem! Abaixem!! O pai saiu com o revólver. Tem um cachorro louco solto!
- Do que ela tá falando? Que cachorro louco?, pensei eu.
Bem, movimento e medo geral. Luciano me procurando. Eu procurando Luciano. Meu pai, o caseiro, o cachorro louco, a tia Cida gritando e as outras crianças perdidas.
Na minha imaginação, acho que me meti embaixo da Kombi (hoje, o senso crítico faz com que eu reveja essa parte e pense que, de fato, eu tenha pulado dentro da Kombi). Luciano estava comigo. Ouvimos tiros.
Era a primeira vez -e espero, a única - que o pai saía para matar. Ninguém deveria estar no caminho. Eu pensei: “Ora, por que ele não pegou a lata do rato?” De qualquer forma, na minha memória, meu pai salvou o caseiro, matou o cachorro e enervou o vizinho dono do Dog Alemão.
No comments:
Post a Comment