Thursday, August 18, 2005

o ex-hippie que ainda abraça árvores

Maple Burl
VERSÃO DOIS
Era uma vez Harvey Windle. Harvey tinha uma banquinha especializada em cachimbos no Pike's Market, em Seattle. O público alternativo da cidade comprava, sempre que passava por lá, aquele objeto para aspirar fumo. As peças de Harvey passaram pelas mãos dos mais entorpecidos, pessoas com visões fantásticas sobre a realidade. Tudo na base do paz e amor. Anos 70, enfim.
Harvey, em uma noite iluminada, viu a alma de uma cadeira escondida dentro de uma árvore. Esculpiu o tronco até encontrar o danado do assento. Sentou e fumou um. Depois desse dia, passou a olhar todas as árvores de maneira diferente. Tem gente que olha árvore e não vê nada. Baiano vê rede. O dono da Suzano vê celulose. Enfim, não interessa, o ponto é: Harvey via cadeiras. Suas visões aumentaram. Parecia um corpo possuído por uma alma de índio. Foi quando ele decidiu expor suas peças artísticas feitas para sentar; ou simplesmente olhar. As pessoas descoladas, com quem mantinha relações de troca positivas, adoraram!
Alguns anos se passaram. Harvey, como continuou sendo chamado pelos íntimos, vendia muito mais que cachimbos e cadeiras. Passou a oferecer mesas, relógios e produtos de amigos. O grande público apoiou e pediu bis. Eis quando ele, encorajado, abriu uma lojinha. Hoje, 10 anos depois, tem entre seus clientes decoradores, hotéis e, quem diria, aposentados conservadores.


VERSÃO UM
Harvey Windle é o ex-hippie que ainda abraça árvores. Tornou-se empresário, mas não gosta do título: define-se como escultor e dono de uma loja de móveis de madeira.

Abriu seu primeiro negócio nos anos 70. Vendia artesanato no Pike's Market, em Seattle. Alvava o público jovem local. Com tino comercial aguçado, o artesão desenvolveu uma linha de móveis alternativos, feitos de madeiras exóticas.

Em meados dos anos 90, com o crescimento das vendas e da produção, Mr. Windle precisava de mais espaço. Abriu uma loja, com cerca de 100 metros quadrados. Passou a oferecer produtos de terceiros, peças sob encomenda e madeiras raras. Hoje, 10 anos depois, é um businessman de sucesso. Tem entre seus clientes: designers de interiores, hotéis em Las Vegas, jovens e até um público mais velho.

3 comments:

Lucia Freitas said...

Gosto mais da versão dois. Tem mais Patrícia...

Patrícia Kalil said...

As duas versões da história são diferentes. As formas de contar a nossa vida, também. O olhar é nosso e escolhemos as palavras que mais cabem à emoção. Aqui, uma brincadeira com Harvey, um escultor que conheci. Provavelmente ele também prefere a primeira versão. A segunda ele não enxerga. O editor da revista Pequenas Empresas Grandes Negócios não vê a primeira. Repertórios.

Patrícia Kalil said...

Bobagens de dona Kalil, enfim.