Rio de Janeiro/RJ - Sta Teresa
Inaugurada em 1895, a Estação de Santa Teresa promove viagens de bonde até hoje. Movidos a eletricidade, os bondinhos se deslocam sobre trilhos que cruzam o morro inteiro. O passeio começa quando o veículo deixa a estação, ao lado do largo da Carioca, e atravessa os Arcos da Lapa. Este trecho é duro: a distância entre cada uma daquelas barras de ferro paralelas sobre as quais deslizam as rodinhas do bonde e o parapeito da ponte é de centímetros. Não estou brincando. O bonde (ou melhor, você) precisa cruzar os 42 arcos construídos ainda em período colonial. "Ai, se isso aqui descarrilar"! Eis o trecho do bonde não chamado desejo, apavorante àqueles tem medo de altura.
Depois é pura diversão.
O morro recebeu este nome por causa de um convento construído ali nas alturas, em 1750. Era da ordem das carmelitas descalças. No século XIX, o local era refúgio de quilombolas e seguidores de feitiçarias. Depois, já no começo do século XX, o morro transformou-se em lugar luxuoso. O clima era mais ameno, cercado de árvores; o espaço ideal para a construção de grandes casas e instalação de chácaras. Passamos por algumas das casas mais requintadas do início do século XX. Há, também, inúmeros sobradinhos, todos coloridos, e alguns prédios de apartamentos. A parte baixa do morro é mais humilde.
Ficamos na casa do artista plástico Eric Pielsen, que morou na França por sete anos. O grupo Cama e Café (www.camaecafe.com.br) é uma ótima pedida para quem busca um lugar confortável, limpo, barato e gostoso para dormir. Por outro lado, sair do hotel de Copacabana e ir para o morro nos deu outra visão do Rio.
A rede Cama e Café (de "bed and breakfast" em inglês) surgiu como proposta de turismo sustentável. Isto é, o morro de Santa Teresa poderia ganhar algum se os moradores disponibilizassem espaço dentro de suas próprias casas para hospedar turistas.
Os primeiros aventureiros, logicamente, foram os gringos. Em 2001, houve um intercâmbio de artistas plásticos entre o bairro de Belleville, em Paris, e Santa Teresa. Os franceses pintariam ou esculpiriam o Brasil e os cariocas, a França. Depois disso, um grupo de jovens organizou a idéia e fez com virasse um ótimo negócio.
O hóspede potencial fala o perfil da casa que gostaria de ficar, o quanto pretende gastar, se é fumante ou não, se tem medo de cachorro, se gosta de mato etc. A equipe do Cama e Café liga para os moradores e vê quem, dentro daquele perfil, pode receber o visitante. Trato feito e a rede ganha uma comissão, o morador uma renda extra.
Enfim, pedimos um quarto casal com banheiro exclusivo, em uma casa de um artista plástico. Conhecemos Eric, um maravilhoso anfitrião, sua família e seus mil discos de chorinho. Sua casa, com seis quilômetros quadrados, tinha uma vista panorâmica: Cristo Redentor, Pão de Açúcar, Sambódromo e baía de Guanabara. Um cartão-postal.
A vida cultural no bairro é agitada, o bondinho é o charme local, a arquitetura das antigas mansões chamam atenção. Botecos não faltam. Turistas também não. Casarões e favela, lado a lado. Foi em Santa Teresa que morou Ronald Biggs (o inglês que assaltou um trem e veio morar no Brasil). Lá, também, em uma das mansões vizinhas, Mick Jagger e Luciana Gimenez brincaram de fazer Lucas. Histórias não faltam. O tempo que é curto para desfrutar cada pedacinho do morro.
Sala de estar da casa de Eric. Do outro lado, o café-da-manhã é servido. Delicioso, com coalhada fresca, mel, pão integral, queijos e embutidos, sucos naturais. Delícia pura. O começo do dia é assim, o resto é cirandar, um cirandar sem fim.
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