Wednesday, September 17, 2003

Não diga noite

Starry Night - Vincent Van Gogh

O décimo romance de Amóz Oz se passa em Tel Kedar, pequena cidade à beira do deserto de Negev.Theo, um engenheiro civil com mais de sessenta, sente que sua vida entrou em um processo de declínio inevitável, no caminho que só pode levar “da tristeza à dor”. Sua mulher, Noa, é uma professora universitária de literatura hebraica. Aos 45 anos, desde os 38 casada, sente a necessidade de afirmação diante o marido.

O dia-a-dia do casal é contado entre palavras não ditas, silêncios revelados em monólogos interiores. As versões dos protagonistas se intercalam. Cada um, ao seu modo, narra o dia e a falta de amanhã. Certos questionamentos não ousam atingir um volume audível.

A pequena cidade, agitada na cotidianidade, frente ao deserto, calado em seu gigantismo, podem ser um paralelo aos personagens: Noa, a citadina, Theo, o desértico. É interessante lembrar que Theo foi um dos planejadores da cidade. Noa seria, então, a beleza que surgiu entre seus traços; talvez até uma curva apagada que marcou o papel.

O autor escreve com perspicácia e fineza, no diálogo pontuado pelo cansaço, o vazio e a saudade. Noite, noite, noite. Não diga nada.

LIVRARIA CULTURA: Não diga noite

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